Surgem primeiras manifestações públicas puxadas pelas novas mídias no Brasil

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O que existe em comum nos seguintes eventos: (1) revolta de trabalhadores de obras do PAC em Rondônia, Mato Grosso e Pernambuco (março); (2) movimento contra o preço da gasolina em Natal (abril); (3) protesto de estudantes contra os preços das passagens em Vitória/ES (maio); (4) manifestação contra a recusa da instalação de uma estação de metrô no bairro de Higienópolis em São Paulo (junho); (5) marcha pela liberação da maconha na Avenida Paulista em São Paulo (junho); (6) acampamento de estudantes na Câmera de Vereadores de Natal/RN contra a prefeita Micarla (junho); e (7) greve dos bombeiros no Rio de Janeiro (junho)?

“Em comum, o fato de as manifestações serem organizadas por meios eletrônicos, sem a tutela de partidos, sindicatos ou entidades estudantis e sem uma hierarquia que permita identificar lideranças.”

Revista Carta Capital, 29.06.11

Depois dos eventos que desencadearam as revoltas no mundo árabe (comentados nos GH/812 e 813), os eventos brasileiros são os primeiros em que aparece com toda a clareza a influência das chamadas novas mídias (SMS, Twitter, Facebook). Talvez sejam o início de uma espécie de preenchimento do espaço que a representação política tradicional não está fazendo. Essas manifestações se dão justamente no momento em que a facilidade tecnológica (com a fragmentação das mídias tradicionais) se junta à crise aguda da representação política no mundo todo e, em especial, no Brasil.

“A sociedade de massa estava estruturada num sistema de representações. E era muita gente. Não dava para falar, para manifestar opiniões. Todo mundo era muito parecido e as coisas discrepantes não interessavam.”

Henrique Antoum, UFRJ, Carta Capital

Diferente das tradicionais, as novas mídias, em especial o Twitter e o Facebook, dão voz  global e em rede a qualquer um que seja cadastrado, mudando radicalmente o acesso à audiência e à possibilidade de participação e articulação.

“Houve muita especulação sobre o impacto das redes sociais. Grande parte dela se focou na possibilidade de os sites prejudicarem os relacionamentos interpessoais e de afastarem as pessoas dos acontecimentos ao redor. [Pelo contrário, elas] mantêm relações mais ativas e são mais propensas a se envolver em atividades cívicas e políticas.”

Keith Hampton, Pew Research Center

São relações completamente diferentes das tradicionais que abrem um horizonte desconhecido, que ninguém sabe como vai evoluir. Há mesmo quem diga que as mudanças necessárias que estão emperradas no país se farão por esses novos canais.

“As entidades de classe que representam a sociedade civil estão um pouco superadas. O futuro da mobilização está nas redes sociais. As redes sociais é que vão fazer a transformação do Brasil. É através delas que essa voz vai chegar e vai criar as motivações para os processos de mudança como aconteceu no Egito, na Tunísia etc. Esse é o caminho: usar as redes sociais como instrumento do processo de mudança.”

Roberto Teixeita da Costa, consultor, GloboNews Painel

O fato é que ninguém sabe, de verdade, o que vai acontecer. Quem disser que sabe ou está enganado ou está enganando. O que dá para perceber é que, com certeza, a coisa não mais será como antes e a hegemonia da mídia e do sistema representativo tradicionais será fortissimamente impactada.