Reunião do G20 em Washingtoninaugura era posterior a George W. Bush

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No sábado passado (15.11), mais um evento inusitado veio se juntar aos tantos eventos inusitados que a crise financeira com epicentro nos EUA se tem encarregado de expor às nossas percepções incrédulas: uma reunião do G20 (países mais ricos do mundo e principais emergentes, dentre eles o Brasil) em Washington para tratar do que fazer para tornar os efeitos do terremoto sobre a economia real menos desastrosos. Uma das principais conclusões foi a de que a desregulação foi longe demais.

“Crises são inevitáveis em sistemas financeiros desregulados, como terremotos numa falha geológica.”

Martin Wolf, articulista do Financial Times

O encontro teve, além da extensa declaração de princípios que produziu, o grande mérito de ter sido o primeiro passo concreto na direção da retomada do multilateralismo, destroçado de forma autoritária e inconseqüente pelo governo Bush no seu rolo compressor para a invasão do Afeganistão e do Iraque. Ocorreu após a maior intervenção estatal no sistema financeiro dos últimos 80 anos.

“Na hora em que tudo treme, como ocorre hoje nos EUA, o Estado é quem salva.”

Fernando Cardim, economista professor da UFRJs

Uma intervenção realizada a contragosto pelo próprio governo Bush para evitar o pior, sem que se saibam ainda quais as repercussões sobre o consumo norte-americano, um peso importantíssimo na economia. Há mais de 20 anos que os norte-americanos buscam formas que permitam manter o seu consumo desenfreado.

“Por duas décadas, o consumo vem sendo forte propulsor de crescimento econômico graças, em larga medida, a uma longa alta nos mercados, à bolha da habitação e à elevação do endividamento dos consumidores. A alta dos mercados, a bolha da habitação e a elevação das dívidas acabaram agora e os salários começam a encolher.”

David Leonhardt, colunista do New York Times

Como resultado deste ímpeto consumista sem lastro, a poupança é insignificante e o endividamento das famílias é recorde. As estimativas são de que cada família deva em média US$ 112 mil, a maior parte relativa a hipotecas imobiliárias. Como sem consumo a economia norte-americana desaba, todos estão morrendo de medo de qual vai ser o impacto da imensa queima de riqueza que houve com o estouro da bolha imobiliária. Todos, inclusive o Brasil que se encontra indiscutivelmente melhor que das vezes anteriores.

“O Brasil tem uma posição extremamente forte, reservas sólidas, um sistema financeiro saudável e bem administrado, e o Banco Central e o governo vêm se conduzindo muito bem durante todo o processo. Estamos mais fortes do que nunca para enfrentar a crise. Mas, como a gente está no planeta Terra, a crise também vai passar por aqui.”

André Esteves, banqueiro brasileiro

A esperança de todos é que o bom senso volte a prevalecer em escala mundial, favorecido pelo governo Obama, como parece indicar a recente reunião do G20. Que o período de desregulação irresponsável e a arrogância política sejam substituídos pela cooperação necessária à revisão do sistema regulatório internacional e a revigoração das organizações multilaterais (ONU, FMI, BIRD etc.). Todos vão se beneficiar, inclusive o Brasil. Além disso, torcer para que a desaceleração norte-americana seja suportável.