Saturnino, o herói do saneamento nacional

“Em mais de 100 anos quase nada foi feito em termos de saneamento no Recife! Só para comparação: hoje Santos é 100% saneada!” 

A primeira vez que ouvi falar no nome de Saturnino de Brito foi por conta de uma rua que leva o seu nome no Bairro do Cabanga no Recife. Depois, estudando sobre a urbanização na cidade, descobri que ele foi o responsável pelo saneamento praticamente completo da nossa capital no início do Século 20. Aí, visitei a cidade de Santos e fiquei impressionado.

Aprofundando a pesquisa, fiquei sabendo que Saturnino dirigiu e/ou orientou projetos de saneamento em cerca de 50 cidades no Brasil e deixou uma detalhada obra escrita que registra em minúncias a teoria e a prática de sua extensa produção de engenharia sanitária. Inclusive, os volume VIII e IX das Obras Completas de Satunino de Brito são inteiramente dedicados ao saneamento do Recife. Na introdução do volume VIII, diz textualmente o autor: “Está concluída e funcionando, desde dezembro de 1915, a extensa rede de esgotos da capital do Estado de Pernambuco, faltando apenas pequenos trechos de coletores no bairro do Recife, cuja construção depende da abertura de ruas, ou da desobstrução de outras, a cargo da Inspetoria de Portos, Rios e Canais (Obras do Porto)”.

Ou seja, em 1915, por conta do trabalho de Saturnino, a cidade do Recife encontrava-se praticamente 100% saneada! E, desde lá até aqui, segundo depreendo do que ouço dos especialistas, os cerca de 30% de rede coletora que a cidade tem hoje, representam praticamente os 100% de 1915! Conclusão que me parece óbvia: em mais de 100 anos quase nada foi feito em termos de saneamento no Recife! Só para comparação: hoje Santos é 100% saneada!

O resultado desta involução podemos ver e sentir a toda hora nos rios, riachos e canais, inclusive e principalmente no Capibaribe, para onde corre todo o esgoto não coletado nem tratado da cidade…

Vamos, nesses 90 anos na morte de Saturnino de Brito, cobrar que a Parceria Público Privada desenvolvida para a Região Metropolitana do Recife venha, um século depois,
resgatar o trabalho feito pelo herói pioneiro na nossa cidade. É o que nos resta!

*Artigo publicado na edição 159 da revista Algomais (www.algomais.com)