Ócio criativo


Aquele que é mestre na arte de viver faz pouca distinção entre o seu trabalho e o tempo livre. Almeja, simplesmente, a excelência em qualquer coisa que faça, deixando aos demais a tarefa de decidir se está trabalhando ou se divertindo“. Domenico De Masi, sociólogo italiano.

Desde os anos 2000, quando Domenico De Masi publicou seu pioneiro livro “O Ócio Criativo”, a ideia de unir ao trabalho atividades de lazer e estudo, como uma coisa só, vem sendo difundida e cada vez mais compreendida no meio organizacional. Ainda há quem confunda equivocadamente o conceito e pense em “preguiça” quando se fala em “ócio”. Mas o que De Masi prega diz respeito ao tempo livre “produtivo” e, não, ao “improdutivo”.
Estávamos acostumados, por influência da era industrial, a associar capacidade produtiva à quantidade de horas trabalhadas. No entanto, como o trabalho atualmente tem uma característica muito mais intelectual, essa avaliação muda. Segundo o sociólogo, é neste contexto que o ócio criativo ganha força e passa a influenciar a cultura do trabalho, das organizações e o comportamento dos profissionais.
A mudança de hábito que essa nova perspectiva exige não é nada fácil. É preciso dar valor, sem culpa, ao tempo vago – aos espaços para reflexão e elaboração de novas ideias. Não se trata apenas de uma defesa da diminuição da quantidade de horas trabalhadas, mas de uma mudança estrutural na forma de se relacionar com o trabalho, incorporando outras atividades necessárias à preservação da capacidade produtiva e, consequentemente, à obtenção de melhores resultados. A ideia é que, associando prazer e aprendizado à atividade produtiva, fique difícil distinguir uma da outra e as pessoas não consigam mais separar o tempo que dedica ao trabalho do tempo dedicado às demais atividades.
Hoje é comum encontrar pessoas que amam o que fazem e que costumam dizer que não conseguem distinguir trabalho de lazer e são estas, apaixonadas pelo o que fazem, que são capazes de produzir com mais motivação e criatividade.
É por isso que muitas empresas vêm investindo em criar ambientes mais confortáveis e descontraídos, estimular a convivência e o debate entre os colegas, a reflexão ao longo da jornada de trabalho, estabelecer horários mais flexíveis, preservar os momentos de descanso fora da empresa etc. Percebe-se que satisfazendo outras necessidades, que vão além da necessidade de apenas ganhar dinheiro, amplia-se a produtividade.
Aos profissionais resta compreender o ganho que se tem quando há investimento de tempo numa atividade prazerosa, capaz de gerar mais conhecimento e, ainda de quebra, dar retorno financeiro. Se esta realidade parece utopia, é bom começar a repensar o projeto profissional. As coisas têm mudado com muita velocidade ultimamente e avançam bem mais rápido do que na época em que De Masi lançou o seu livro.
Gestão Mais é uma coluna da TGI na revista Algomais. Leia a publicação completa aqui: www.revistaalgomais.com.br