Lideranças na Crise


por Luciana Almeida, sócio da TGI Consultoria em Gestão
A sensação de angústia é uma das características das pessoas que perdem a confiança na sua liderança.
Ultimamente tem se falado muito sobre a crise econômica e política que o Brasil está vivendo. Em muitas situações, a discussão se amplia e se configura como uma crise moral e de liderança, o que torna as coisas ainda mais difíceis de serem resolvidas.
Se pararmos para observar o efeito dessa crise nas pessoas e nas organizações, vamos perceber que o sentimento predominante é quase de desespero. A sensação de perda de controle e o medo da crise têm feito com que profissionais e empresários recuem ou se paralisem diante de caminhos outrora traçados. É claro, a pressão financeira e o cuidado com o caixa fazem com que as decisões sejam mais cautelosas, isso é natural. Mas não é a cautela que tem marcado o comportamento das pessoas, e sim a angústia.
Esse sentimento de angústia é característico de situações em que se perde a confiança nas figuras de liderança e também a crença na condição de resolução e enfrentamento dos problemas. Quando a liderança está fragilizada, as pessoas experimentam desamparo. Um desamparo que se conecta, no imaginário, à experiência do nascimento — o primeiro momento da vida, quando nos deparamos com um mundo ainda, para nós, desconhecido.
Um outro efeito da fragilidade da liderança está nas reações de transgressão. As pessoas são compelidas a transgredir, já que perdem a referência do que é certo e do que é errado face à ausência de uma lei reguladora. As figuras de autoridade presentes na nossa vida (pais, professores, políticos, etc.) são aquelas responsáveis por instituir e representar a lei, ou seja, orientam e são exemplo dos comportamentos certos, assim como recriminam as condutas desviantes. E o que acontece hoje? Com a fragilidade da liderança, cada um se autoriza a fazer sua própria lei, e isso não pode dar certo nem na vida nem nas organizações.
O paralelo com a família é interessante de ser feito porque os mesmos efeitos se repetem na relação pai e filho. Observa-se comumente a dificuldade que os pais estão tendo em estabelecer uma relação de autoridade com os filhos em virtude da necessidade de compensação pelo tempo que passam afastados e do sentimento de culpa que isso gera. As consequências disso se revelam, geralmente, nos comportamentos subversivos dos adolescentes, que crescem com o sentimento de onipotência e apresentam uma dificuldade enorme de lidar com limites, regras e frustrações.
Estamos em um momento, portanto, em que se faz mais do que necessário reavaliar nossos papéis na sociedade, na família e nas organizações. Em que medida estamos conseguindo ter clareza dos caminhos e pulso na tomada de decisões? Em que medida estamos conseguindo orientar e encaminhar nossos filhos, nossa equipe de trabalho, nossa empresa? É necessário não se deixar levar pelo medo e pela angústia e compreender que temos um papel a cumprir; entender que muita gente depende da nossa capacidade de nos mantermos firmes.
Urge que as lideranças, quaisquer que sejam — governantes, gestores, pais —, assumam as responsabilidades do seu papel!
No contexto das organizações, é oportuno aproveitar o fim do ano e reunir a equipe para uma reflexão coletiva sobre o momento atual. O tom não deve ser de dúvidas sobre o futuro, não é o momento de reforçar a crise instalada. É o momento, sim, de considerar que tempos difíceis virão, mas que, com competência e podendo contar com uma equipe preparada para enfrentar os desafios, é possível atravessar essa turbulência e sair dela melhor do que quando entramos.