Dedicação ao que salva

por Francisco Cunha, sócio da TGI Consultoria em Gestão
Depois de vagar de perigo em perigo, cheguei ao Capibaribe e à criação da cidade-parque.
Quando entrei na faculdade, em meados da década de 1970, minha pretensão era “salvar” o Brasil que vivia em meio à ditadura mi litar e a um regime inflacionário – viria a fazer anos à frente. Quando fundamos a TGI, em 1990, minha pretensão, já mais modesta, era também “salvar” Pernambuco que vivia, então, o auge do período de “baixo astral”.
Décadas depois, considero que tanto o Brasil quanto Pernambuco já estão “salvos”. O País teve restabelecido o regime democrático, passou pela estabilização econômica e viveu um processo de inclusão social que não tem mais retorno, apesar da crise conjuntural séria pela qual passa hoje. O Estado, por sua vez, retomou o rumo do desenvolvimento com investimentos estruturadores irreversíveis e, na crise atual, apesar das dificuldades, está na melhor situação de sua história recente para ultrapassar os obstáculos do momento.
Com a consciência do “dever cumprido” e com a certeza de ter dado modestíssima contribuição aos processos nacional (deblaterando pela democracia e pela estabilização) e estadual (principalmente com a Pesquisa Empresas & Empresários realizada pela TGI durante mais de 20 anos), minha pretensão hoje é “salvar” o Recife. Evitar que a cidade onde nasci e que escolhi para viver se consolide como um lugar ruim como milhares pelo mundo afora.
Para isso, resolvi me orientar pelos versos do poeta alemão Holderlin: “Onde está o perigo, cresce também o que salva”. E também pelo conselho do papa da administração, Peter Drucker, que recomendou dedicar mais energia ao aproveitamento das oportunidades do que à resolução dos problemas.
De perigos e problemas o Recife está repleto e mesmo se fossem contornados ou resolvidos todos, a cidade não estaria salva. Depois de vagar de perigo em perigo, cheguei ao Capibaribe e à criação de um parque urbano capaz de transformar gradativamente o Recife numa cidade-parque no espaço de 20 anos.
Por isso, peço perdão às pessoas que me pedem para tratar desse ou daquele problema urbano da cidade, dentre os inúmeros, enormes e seculares que ela tem. Exceto pelo dos carros nas calçadas (continuarei multando todos os que encontrar), resolvi dedicar o melhor da minha energia ao Capibaribe e à sua grande oportunidade salvadora do Recife. Espero ter sucesso também.
*Artigo publicado na edição 109 da revista Algomais (www.revistaalgomais.com.br)