O Foco agora É na Gestão das Cidades

Crédito: Francisco Cunha

por Cármen Cardoso, Fátima Brayner e Fernando Braga, sócios da TGI Consultoria em Gestão
Além das eleições, este mês de outubro marca o dia mundial das cidades
Neste mês de outubro, temos duas datas muito impactantes em nossa vida. A primeira delas é hoje — o dia em que escolheremos o presidente do Brasil pelos próximos 4 anos. A segunda tem valor simbólico — na próxima sexta-feira, 31 de outubro, será comemorado o primeiro Dia Mundial das Cidades, decisão tomada em Assembleia Geral da ONU em 2013, com o tema Liderando Transformações Urbanas como foco inaugural.
O tema não poderia ser melhor escolhido: transformações é o que necessitamos nas nossas cidades. O modelo atual de planejamento e desenvolvimento urbano apresenta evidências práticas de desgaste, intensamente experimentado por todos nós.
As cidades são uma criação humana. Produto histórico-geográfico em constante dinamismo, espaço sempre em construção, são fontes de inesgotáveis reflexões, debates, imagens, ideias. A cidade, por definição, é um espaço de encontro, um lugar de troca de todas as naturezas, de prestação de serviços. Isso significa que o convívio em cidades deveria gerar mais benefícios do que problemas. Hoje, a percepção generalizada é de que os transtornos superam os ganhos.
Cidades são espaços de criação de vínculos e relacionamentos; de troca de bens, serviços e ideias; de produção de conhecimento e inovação; que otimizam a infraestrutura e possibilitam a criação de espaços comuns extraordinários; que tornam mais eficiente o uso de recursos públicos; de participação cidadã, consolidando práticas democráticas. Um primeiro sentimento forte de pertencimento das pessoas é o relativo às cidades em que vivem, o que é uma forte razão para cidades serem feitas e geridas tendo as pessoas como referência principal.
Precisamos de transformações urbanas para tornar as cidades nesses espaços extraordinários que precisam ser, e não nos lugares insuportáveis e estressantes que vêm sendo ou, pior, em espaços amorfos — já chamados de não lugares — sem identidade, destruindo traços da história e, com isso, nossas identificações pessoais e nossos vínculos emocionais de pertencimento.
Precisamos resgatar a verdadeira vida em cidade. Precisamos voltar a ocupar a cidade, de verdade, e não apenas migrar de um lugar privado para outro. Como fazê-lo?
A primeira premissa para esse resgate é a construção democrática de um projeto de cidade, considerando as vocações, a identidade e o desejo da cidade (enquanto desejo dos cidadãos) numa perspectiva de longo prazo.
A segunda é a participação popular nas decisões importantes, no acompanhamento dos projetos de longo prazo para a cidade e na cobrança efetiva do desempenho da gestão municipal, utilizando para isso as novas tecnologias e mídias sociais, inclusive (a exemplo da ferramenta colab.re). Um envolvimento popular vibrante no cuidado e na defesa da cidade é fator fundamental para a construção de lugares bons para se viver. O Observatório do Recife, movimento da sociedade civil cuja principal finalidade é influenciar a gestão pública e mobilizar cidadãos pensando na qualidade de vida de nossa cidade, é um exemplo dessa participação.
Finalmente, é essencial uma gestão orientada por um plano de governo com objetivos e metas claros e focados nos impactos para a sociedade, com quadros capacitados e estruturas capazes de atender à cidade de modo articulado e regionalizado, ampliando a qualidade e a velocidade das decisões locais e criando redes de interação entre gestão municipal e bairros ou regiões, facilitando a entrega de melhores serviços, espaços públicos estimulantes e atrativos e qualidade de vida para os cidadãos.
Aí, sim, teríamos cidades para as pessoas. Merecemos isso e temos o direito e o dever de lutar por isso.