Toda derrota é anterior a si mesma

Tinha prometido a mim mesmo não falar de futebol nesta Copa. Afinal, estou tentando bravamente entender cada vez menos deste cada vez mais frequentemente frustrante “violento esporte bretão”. Todavia, depois da inacreditável derrota de hoje, vejo-me irresistivelmente compelido a quebrar minha promessa.
No tempo em que eu pensava, como a maioria dos brasileiros, que entendia alguma coisa de futebol, cheguei a escrever uma artigo em louvor de Felipão como grande responsável pelo penta campeonato. Para isso, me vali do grande cronista e dramaturgo pernambucano Nelson Rodrigues (1912-1980) que, dentre centenas de frases geniais, perpetrou essa: “toda grande vitória é anterior a si mesma”.
Naquela época, Filipão e seu estilo deram conta do desafio. Hoje, não mais.
Lembro de Nelson agora, com um ajuste por antítese de sua frase: “toda grande derrota é anterior a si mesma“.
Sim, essa derrota vem de longe. Vem do inacreditável amadorismo a que foi relegado o futebol no Brasil desde então, enquanto os adversários (em especial os europeus) avançaram (e muito!). Vem da ideia hoje maluca que improvisação, “inventividade”, malandragem, paternalismo, por si sós, conseguem superar o trabalho duro, o treinamento, a estratégia, a preparação, a experiência.
Tomara que essa derrota humilhante sirva para abrir os olhos de algumas pessoas para o fato de que ou mudamos no futebol (e em muitas outras coisas também) ou vamos ser ultrapassados já, já na titulação inédita que conquistamos, em tempos heróicos, pelos países adversários que já entenderam, há muito tempo, que futebol é coisa importante demais para ser deixado exclusivamente por conta da cartolagem (e, no nosso caso, que cartolagem!).
Na Europa, que salvo uma zebra deve levar essa Copa, futebol é um assunto empresarial, muito bem e profissionalmente administrado (vide o Barcelona!). O resto, como dizia Millôr Fernandes sobre a imprensa submissa, é “armazém de secos e molhados“. Torçamos pelas boas lições da derrota.
Valei-nos, Nelson!

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