Em busca da civilidade perdida


por Georgina Santos, sócia da TGI Consultoria em Gestão
As pessoas nunca investiram tanto em qualificação, recheando seus currículos com MBAs e especializações, para se tornarem profissionais cada vez mais competentes. A preocupação com a boa formação começa ainda na infância, com pais ansiosos por escolher a melhor escola para seus filhos, capaz de estimular todo o potencial e desenvolver as habilidades dos pequenos.
Um aspecto, entretanto, chama a atenção, revelando certa contradição nas relações sociais nesses nossos tempos. Se por um lado nos preocupamos cada vez mais com a educação formal, por outro parece que estamos vivendo uma verdadeira crise de civilidade. A impressão é que desaprendemos as noções mais básicas de educação doméstica e convívio social, em uma falta de civilidade generalizada, que se expressa nas filas, nas ruas, nos locais públicos. Se como profissionais estamos cada vez mais competentes, como cidadãos nunca fomos tão mal educados.
No trânsito, onde esse fenômeno é claramente percebido, a lei do cada um por si virou regra. É impressionante o número de motoristas que parecem incapazes de um gesto de cortesia, como dar passagem para outro carro, respeitar o pedestre ou o ciclista. As vagas especiais para idosos e portadores de deficiências nem sempre são respeitadas, mesmo com a lei que prevê multa para quem ocupá-las indevidamente. Muitos não pensam duas vezes antes de parar seus carros nas calçadas, impedindo a passagem de pedestres. Os exemplos são inúmeros e cada vez mais frequentes.
Será que a pressa e a correria do dia a dia estão nos tornando insensíveis aos princípios da vida em comunidade? As pessoas parecem não perceber que estão cada vez mais impacientes, intolerantes e mal educadas. Que essa incapacidade de enxergar, pensar no outro e no coletivo, mesmo nas pequenas coisas, torna ainda pior a qualidade de vida nas grandes cidades. Afinal, ser cordial, dar a vez, respeitar a fila, obedecer as regras de trânsito, demonstrar solidariedade e ajudar o outro quando necessário são atitudes essenciais para se viver bem coletivamente.
É curioso que as pessoas entendam essa dinâmica mais facilmente nas empresas e organizações. No trabalho, compreende-se com mais clareza que é necessário seguir regras, tratar todos com cordialidade, cuidar do coletivo. Os profissionais percebem que para alcançar um bom resultado é preciso pensar no objetivo comum e haver colaboração entre todos.
Vale a pena refletir sobre que mundo estamos construindo. Elevamos nossos padrões competitivos, profissionalizamos a gestão de carreiras e empresas. Mas temos dificuldade em demonstrar solidariedade nas relações sociais — com o vizinho, o pedestre que atravessa a rua, o ciclista que divide a faixa, o motorista que pede passagem. Boa educação e gentileza não se aprendem na universidade, mas são requisitos indispensáveis à vida em sociedade.