Desafios internos do governo Dilma, uma prova de fogo que vai além da política

As primeiras movimentações da presidente Dilma mostram postura diversa do seu antecessor e sinalizam a necessidade de mais negociação, inclusive para enfrentar os desafios internos
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Com a posse da presidente Dilma Rousseff, o país deu mais um passo na direção da institucionalidade plena, configurando uma situação inédita pouco percebida em face da normalidade que aparenta.

“A posse da presidente Dilma significou um ineditismo: pela primeira vez desde 1930 três presidentes eleitos tomaram posse sucessivamente, sem interrupções e anormalidades. Tudo foi como tem que ser. É, enfim, a normalidade numa república tão cheia de sustos e sobressaltos.”

Miriam Leitão, O Globo, 09.01.11
Além disso, o ineditismo evidente de ser a primeira mulher presidente do Brasil. Uma mulher com características executivas e um estilo gerencial próprio que embora já se vá impondo, ainda terá que passar pelo teste político, um tipo de “terreno” que não é, reconhecidamente, o forte da presidente e que exigirá negociar muito mais do que estava acostumada a fazer.

“Essa negociação fica tensa quando os partidos começam a dividir o micro-espaço, o que começa a acontecer agora.  Ela vai ser mais pragmática e cobrar (…) resultados.Vai ter um governo mais gerencial, com metas, como na administração privada. (…). Ela tem fama de ser boa gestora, mas se em três meses não aparecerem resultados, a imagem começa a ser arranhada. Tem que administrar com o Congresso e com sua equipe.”

Antônio Flávio Testa, professor da UnB, Agência Estado
E isso tudo terá que ser feito considerando os obstáculos que precisarão ser transpostos no front interno (sobre os do front externos ver o GH/809, anterior), cuja sinopse é feita a seguir.
1.Desequilíbrio Fiscal
Desde o enfrentamento da crise de 2008/2009 com desoneração de automóveis e outros itens de consumo, emendando com o período eleitoral, houve um “afrouxamento” fiscal que terá que ser revisto já agora no início do novo governo.
2.Apreciação Cambial
O real é uma das moedas que mais se valorizou frente ao dólar no mundo e isso traz um prejuízo importante para os setores industrial e exportador. O novo governo já tomou algumas medidas, mas ainda insuficientes.
3.Juros Altos
Os juros reais brasileiros continuam sendo dos mais altos do mundo e isso terá que ser enfrentado no médio prazo para aumentar a competitividade nacional num mundo crescentemente globalizado.
4.Baixas Taxas de Poupança e Investimentol
Historicamente baixas, as taxas de poupança e investimento brasileiras (próximas a 18% do PIB em comparação com mais de 40% da China), terão que aumentar para garantir crescimento sustentado.
5.Carga Tributária Alta e Regressiva
O Brasil tem a mais alta carga tributária (36% do PIB) dos países emergentes. E além de alta e disfuncional, ainda é enormemente regressiva (os mais pobres pagam mais impostos). Isso terá também que ser enfrentado para aumentar a competitividade brasileira.
6.“Apagão” da Infraestrutura
Com a infraestrutura (portos, estradas, aeroportos etc.) sucateada, é fundamental investir para que o crescimento econômico não traga consigo estrangulamento do escoamento e, por conseguinte, mais inflação fugindo da meta do Banco Central.
7.“Apagão” da Mão de Obra
Um dos mais cruciais entraves ao crescimento sustentado da economia é a falta de mão de obra capacitada. Para atacar esse problema terá que ser atacado também o grave problema da educação no país. O Brasil, com toda certeza, não será a única  potência iletrada do planeta.