Lições da derrota na Copa: o que se deve evitar do "estilo" Dunga

Como a derrota tem o dom de iluminar os erros, a desclassificação do Brasil na Copa é uma boa oportunidade de refletir sobre o que deve ser evitado no dia a dia da gestão organizacional
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Depois do fiasco brasileiro na Copa da África do Sul, muito se tem falado sobre as razões da derrota. Assim como praticamente todo mundo tinha uma opinião sobre a escalação adequada da seleção brasileira, agora quase todos têm uma hipótese sobre os motivos do fracasso. Afinal, já se disse à exaustão que somos um país de 190 milhões de técnicos de futebol… A escuta dessas hipóteses e uma análise comparativa do ocorrido com alguns preceitos da gestão empresarial, apontam o que se poderia chamar de erros de condução do processo que, do ponto de vista geral, podem ser considerados muito danosos para o gerenciamento estratégico. Foram eles:
1. Improvisação 
Com Dunga aconteceu uma coisa muito comum no dia a dia da gestão: a promoção de um bom profissional da condição de gerenciado para gestor, sem que ele estivesse minimamente preparado para isso. Dunga tinha deixado a carreira de jogador (avaliado como “empenhado”, “valente”, “determinado”, ainda que, segundo alguns críticos, “limitado” do ponto de vista das habilidades técnicas) quando foi chamado para ser técnico da seleção brasileira. Improvisação pura. Um tiro no escuro, irresponsável. Afinal, segundo disse com muita propriedade Nelson Rodrigues, a seleção é “a pátria em chuteiras” e, como tal, merece todo o respeito, não podendo ser lugar de improvisações de comando.
2. Rigidez
Talvez por conta de suas inevitáveis limitações em relação aos conhecimentos requeridos para um técnico da seleção brasileira, Dunga adotou a rigidez dos esquemas táticos que veio, na Copa, se mostrar desastrosa. No momento em que se tornou mais necessária a flexibilidade para mudar o esquema, após o primeiro gol da Holanda no jogo da desclassificação, o time se desarrumou mas não flexibilizou a rigidez: defesa “boa”, meio de campo indefinido e privilégio aos contra-ataques. Quando a defesa “forte” falhou, o esquema todo veio abaixo.
3. Teimosia
Dunga sempre demonstrou uma atitude teimosa seja em relação às convocações, à concentração dos jogadores, aos esquemas táticos, à relação com a imprensa etc. Independente da razão, um técnico da seleção brasileira de futebol não pode brigar com a imprensa, em especial com a da televisão que, na Copa, passa a ser o veículo de integração dos corações e das mentes nacionais. Existe uma diferença grande entre perseverança (boa) e teimosia que é o risco que se corre.
4. “Patotismo”
Uma seleção nacional de futebol, como o nome mesmo diz, deve tratar de abrigar/acolher os melhores jogadores de nacionalidade brasileira, não apenas aqueles que fazem parte da “patota” do treinador como ficou evidente nesta Copa. Dunga privilegiou os seus fiés seguidores em vez de convocar os melhores.
5. Mau Humor
Segundo Madre Tereza de Calcutá, o mau humor é “o pior dos defeitos”. A coisa mais rara de se ver nesta Copa foi um riso de Dunga… É claro que este permanente estado de espírito mal humorado, chegando às raias da beligerância, contamina a equipe fazendo com que até jogadores tranqüilos chegassem ao descontrole mal humorado como foi o caso de Kaká e Robinho.
6. Arrogância
Para culminar e piorar tudo, uma atitude arrogante e antipática de “dono da verdade” terminou colada ao treinador. Ruim para todos porque desperta uma perversa e não desprezível torcida pelo fracasso do arrogante…
A derrota tem o dom de iluminar amargamente os erros e os defeitos. Provavelmente se o Brasil tivesse ido adiante, os defeitos e os consequentes danos à gestão estratégica que eles provocam teriam sido encobertos e talvez até tivesse sido festejado um certo “estilo Dunga” de comando… Como isso não aconteceu, resta tirar as lições da derrota e refletir sobre o que de prejudicial para a gestão existe no mau desempenho do nosso infeliz treinador, procurando evitar a reprodução dos erros cometidos no dia a dia da nossa gestão organizacional.