Cada senador custa R$ 33 milhões porano e o país pergunta espantado: para quê?

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Desde que foi escrito o GH/741 (“Parece que o Congresso isolou-se da sociedade e vive numa ilha da fantasia”), a situação do Congresso Nacional e, mais especificamente, a do Senado Federal, só fez piorar. Descobriram-se atos ocultos, enriquecimentos ilícitos, favorecimentos indevidos, salas secretas e várias outras ilegalidades, tudo tratado como se não dissesse respeito ao atual presidente da instituição, ex-presidente da República José Sarney que chegou, inclusive, a fazer um patético discurso da tribuna do Senado e a dar outras declarações isentando-se dos problemas divulgados .

“Eu julguei que, quando fui eleito presidente, era para presidir politicamente a Casa e não para ficar submetido a procurar a despensa ou limpar o lixo das cozinhas da Casa.”

José Sarney, presidente do Senado, 22.06.09

Até o presidente Lula saiu em defesa do aliado político e perpetrou uma frase que dá muito o que pensar na medida em que propõe a constituição de uma categoria de pessoas que podem ser absolvidas do que fizerem por conta de sua “história”.

“Sarney tem uma história suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum.”

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República

Com isso, a situação parece chegar a um tal grau de deterioração que vai ficando cada vez mais evidente que a dissociação entre a classe política e a sociedade apontada pelo GH/741 é uma realidade inelutável. A própria revista Veja desta semana, na Carta ao Leitor, estampa que somos hoje “Um país melhor que seus políticos”.

“Fora da política, o Brasil tem dado ao mundo lições de resiliência, coragem, inventividade, organização, disciplina e arrojo. As conquistas brasileiras são sempre destacadas no exterior. Na semana passada, Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, ressaltou o papel civilizatório do Brasil em relação aos seus vizinhos e à condução impecável da política econômica dentro de nossas próprias fronteiras.”

Carta ao leitor, revista Veja, 01.07.09

Essa é, de fato, uma contradição marcante. O novo protagonismo que o Brasil vem tendo no cenário internacional, em especial depois da eclosão da crise financeira que está descambando para um recessão mundial (ver a propósito o GH/738), não se coaduna com essas demonstrações patentes de atraso e falta absoluta de sintonia da classe política com as atuais necessidades do país. Essa situação gera perplexidade e expõe evidências de absurdos como, por exemplo, o fato de que o Senado brasileiro é uma das casas legislativas mais caras do mundo.

“O Senado Federal tem um dos mais altos orçamentos da República. Em 2008, a Casa consumiu dos cofres públicos — ou seja, do dinheiro de impostos pagos pelos brasileiros — R$ 2,7 bilhões. (…) Considerando-se que esse mar de recursos é gasto para justificar o trabalho dos 81 senadores, cada ‘excelência’ custa ao contribuinte R$ 33 milhões ao ano.”

Revista IstoÉ, 01.07.09

É difícil não sustentar que se trata, de fato, de uma “ilha da fantasia”, apartada das necessidades da sociedade brasileira. Uma espécie de síntese da dissociação entre a classe política e o país. Esperemos que haja algum avanço depois que for feito o rescaldo dessa mais nova bandalheira.