Será que a crise está no fundo do poçoe a economia começa a retomada no Brasil?

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Parece que depois da reunião do G20 em Londres, um sopro de esperança varreu o mercado financeiro mundial e promoveu o que os analistas chamam de “rali de alta” nas bolsas de valores ao redor do planeta, inclusive no Brasil. O Ibovespa subiu 3,28% na quinta-feira antes do feriado da Páscoa e atingiu o maior nível (45.629 pontos) desde outubro de 2008. A pergunta que todos se fazem agora é: será que o fundo do poço (o “vértice” do “V”) já foi atingido e estamos vendo o início da retomada? Pode ser, mas é preciso não esquecer que a recuperação no epicentro da crise (EUA) e, com ele, no restante do mundo, será muito lento como alerta o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros.

“Os Estados Unidos — governo e setor privado — vão ter que recriar o hábito da poupança e da redução de seus gastos correntes. A dívida pública americana vai chegar a um nível tal que os gastos com juros no futuro próximo vão obrigar a um esforço fiscal de grandes proporções. A contrapartida desse movimento será uma economia mundial com crescimento medíocre por algum tempo, talvez alguns anos.”

Luiz Carlos Mendonça de Barros, FSP, 03.04.09

No Brasil, por sua vez, existe uma espécie de entendimento compartilhado pelos analistas de que a crise será menos danosa do que nos EUA e na Europa, apesar dos grandes estragos já feitos na economia. A indústria levou um tombo de 20% no quarto trimestre de 2008 e de 17% em fevereiro. As exportações caíram 25,1% em fevereiro. A produção de máquinas caiu 28% entre setembro e fevereiro. Além disso, o crescimento já é negativo há dois trimestres, o que caracteriza recessão. Todavia, os especialistas têm esperança.

“Nos últimos dias, o Portal Exame reuniu a opinião de oito especialistas em previsões econômicas. Desconsiderando tudo que não é consensual, chega-se a quatro conclusões: (1) A economia brasileira encolheu entre janeiro e março e completou dois trimestres seguidos de retração, o que tecnicamente configura uma recessão; (2) Apesar de o ritmo da contração estar mais para tsunami do que para marolinha, a recessão brasileira será curta, ao contrário da americana e da européia; (3) Em relação ao trimestre anterior, a economia voltará a crescer neste segundo trimestre ou, no mais tardar, no próximo; e (4) a produção só voltará ao patamar pré-crise no final do ano ou no início de 2010.”

Portal Exame, 06.04.09

Ou seja, embora as perspectivas atuais sejam de crescimento zero ou mesmo negativo para a economia brasileira em 2009, são razoáveis as expectativas de que o pior já tenha passado ou esteja passando, ainda que com previsões de retomada lenta do ritmo de crescimento. Como consolo, temos, pela primeira vez em muitos anos, a chance de promover uma baixa substancial nos juros básicos da economia. Se for assim, pelo menos a crise serviu para alguma coisa…

“Estamos diante de uma oportunidade histórica, a de aprender a viver com taxas de juro de ‘países normais’. (…) O Brasil ainda tem a maior taxa de juro real do planeta e tem condições de reduzi-la a um dígito sem risco inflacionário. Na minha opinião, esse dígito está mais para 5% do que para 9%.”

Gustavo Franco, ex-presidente do BC, Exame, 25.03.09