Sapatada no Iraque antecipa o fimdo desastroso governo George W. Bush

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A dupla sapatada que o presidente George W. Bush levou de um jornalista iraquiano na visita-surpresa que fez ao Iraque no domingo passado é uma espécie de síntese da execração que uma grande parte dos americanos e, com certeza, a maioria da opinião pública mundial dirige ao seu lamentável governo. O próprio sucessor Barack Obama já especificou o legado que receberá quando assumir no dia 20 de janeiro próximo.

“Duas guerras, um planeta em perigo e a pior crise financeira em um século.”

Barack Obama, presidente eleito dos EUA

É verdade que o planeta em perigo, às voltas com o aquecimento global, não pode ser considerado uma obra do governo Bush, muito embora a ele possa ser atribuída a grande resistência a tratar do assunto nos fóruns internacionais. Nos outros quesitos, a responsabilidade é total.

“Ninguém imaginava que, oito anos depois da posse de Bush, o mundo estaria diante da pior derrocada econômica que o capitalismo produziu desde 1929. Nem se podia pensar que os Estados Unidos seriam acusados de torturar prisioneiros de guerra, humilhados em cenas de violência sexual, ameaçados por cães ferozes — e que essas imagens, em forma de denúncia contra a pátria da liberdade e do direito dos povos, seriam exibidas pelas TVs do mundo inteiro.”

Paulo Moreira Leite, da revista Época, 31.10.08

O governo que começou com uma fraude eleitoral, depois transformou-se numa fraude militar, ao forjar provas e passar por cima da ONU para invadir o Afeganistão e, principalmente, o Iraque, termina como uma fraude econômica. Hoje, George Bush sai com uma rejeição de 71% da população, deixando o país na pior crise financeira em muitas décadas.

“A presidência de George W. Bush caminhou para uma desgraça colossal e histórica. Nossos piores presidentes foram aqueles que dividiram a nação, governaram de forma errática e deixaram o país pior do que encontraram.”

Sean Wilentz, historiador da Universidade de Princeton

Olhado em retrospectiva, talvez o aspecto mais impressionante do anacronismo do governo Bush tenha sido sua arrogância e total desprezo para com a diplomacia. No primeiro governo, então, essa arrogância chegou a ser quase ficcional.

“Para Bush, diplomacia não é a arte de negociar um compromisso, mas o melhor caminho para chegar aonde ele deseja.”

Richard Wolffe, da revista Newsweek

O resultado, como que uma síntese desses oito anos de mentiras, arrogância e trapalhadas é essa crise financeira de proporções ciclópicas, muito embora não de responsabilidade exclusiva de seu governo, uma vez que vem se gestando desde o governo Reagan. Mas foi durante a era Bush que ganhou os contornos da catástrofe que assumiu agora, a transbordar para a economia real. Sair dela não será fácil, como antecipa o próprio Obama.

“Não há forma rápida nem fácil de resolver esta crise, que está sendo burilada há anos e que deve piorar antes de começar a melhorar.”

Barack Obama, presidente eleito dos EUA