A importância e os riscos da amizade para a vida e para a gestão

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A amizade é boa para a vida. E se é boa para a vida é boa para a gestão. Existe um ditado popular que afirma: “amigo na praça é melhor do que dinheiro no caixa”. A amizade, assim como o amor, é, com certeza, um dos sentimentos mais antigos da humanidade.

“Um amigo pode muito bem ser considerado a obra-prima da natureza.”

Ralph W. Emerson, 1803-1882, filósofo norte-americano

Tão importante são os amigos que eles funcionam como parâmetros para avaliação das pessoas. Célebre é a frase “dize-me com quem anda e te direi quem és”. Saiu da Bíblia para também tornar-se ditado popular, muitíssimo citado, por sinal.

“Julga-se um homem tanto por seus inimigos quanto por seus amigos.”

Joseph Conrad, 1857-1924, escritor inglês

Mas a amizade, “o sal da terra” a que se refere outra famosa citação, não é barata. A verdadeira amizade, requer dos amigos, de ambos os lados, portanto, cultivo, atenção, cuidado. Uma coisa que vai além da intimidade da amizade estabelecida. Um cuidado extra e permanente com a diferença.

“Duas pessoas não podem ser amigas muito tempo se não souberem perdoar os defeitos uma da outra.”

Jean de La Bruyère, 1645-1696, escritor francês

No que diz respeito, inclusive, à convivência, há uma espécie de mistério que funciona às avessas. A experiência mostra que excesso de convivência é tão ruim para a amizade quanto a sua escassez. Por maior que seja o amigo, é salutar manter uma espécie de distância regulamentar como sugere sarcasticamente o grande Nelson Rodrigues, no seu delicioso tom exagerado.

“O amigo é a desesperada utopia que todos nós perseguimos até a última golfada de vida. Mas o trágico da amizade é a convivência. Talvez a solução fosse pôr um deserto entre nós e o amigo.”

Nelson Rodrigues, 1912-1980, dramaturgo brasileiro

Além do excesso de convivência e intimidade, outro dificultador correlato da amizade é a sem-cerimônia. Em demasia, causa o efeito oposto e a dificuldade até de desfazer a amizade como destaca o gozador Carlito Maia.

“Fazer amigos é fácil. Difícil é se desfazer de alguns deles.”

Carlito Maia, 1924-2002, publicitário paulista

Na política, então, onde a amizade se confunde, muito freqüentemente, com exigência de correligionário, essa situação pode levar ao paradoxo apontado por José Sarney.

“Em política, os amigos costumam dar mais trabalho do que os inimigos.”

José Sarney, senador pelo Amapá

Por conta desses efeitos colaterais, a amizade pode azedar, muito mais facilmente do que se imagina. Millôr tem uma receita bem humorada para quando isso acontece.

“Jamais chame um amigo de imbecil. É preferível lhe pedir dinheiro emprestado e não pagar.”

Millôr Fernandes, humorista e filósofo carioca

Mas, noves-fora os contratempos e desacertos, a verdadeira amizade, aquela obra-prima da natureza de que fala Emerson, quando se estabelece, não precisa de muita coisa. Apenas ser. E já é muito.

“A beleza de ser amigo não versa sobre pensar nem dizer. Ao contrário, como a vida de um herói, basta ser. Intransitivamente.”

Paulo Rabello de Castro, economista carioca