O Brasil precisa também dos Ronaldinhos, Kakás e Robinhos da Ciência

 
Enquanto a seleção brasileira vai vencendo jogos ainda sem convencer, o técnico Carlos Alberto Parreira desenvolve o seu esquema tático pobre de gols.

“O sonho do Parreira é ser campeão ganhando sete jogos com o placar de 1×0.”

Joelmir Beting, Jornal da Band, 13.06.06

Depois da vitória de 2×0 frente à Austrália, o sonho de Parreira não poderá ser alcançado mas, pelo visto, ainda vai ser perseguido nos próximos jogos. Com um time de grandes talentos, a seleção ainda não conseguiu, na Copa da Alemanha, mostrar um entrosamento que confirme o favoritismo que todos lhe conferiam, sobretudo depois dos jogos anteriores ao mundial.

“O Brasil consegue unir beleza e eficácia de um modo impressionante. Por isso é fascinante.”

Daniel Cohn-Bendit, IstoÉ Gente, 19.06.06

Dentre os jogadores excepcionais que atuam no escrete brasileiro, destaca-se Ronaldinho Gaúcho, um craque na acepção da palavra, eleito pela segunda vez o melhor jogador do mundo.

“Ronaldinho Gaúcho (…) faz coisas extraordinárias, que não esperamos. Faz isso rindo. Ele é a encarnação do futebol como jogo.”

Daniel Cohn-Bendit, IstoÉ Gente, 19.06.06

Excessivamente marcado, embora sem perder o extraordinário domínio da bola, Ronaldinho deu margem ao aparecimento de outros craques como é o caso de Kaká, de cujo talento o time brasileiro valeu-se para a vitória contra a Croácia, de Robinho, mudando completamente o ritmo dos dois jogos em que entrou no segundo tempo e, até, do iniciante Fred que, jogando apenas seis minutos, armou uma jogada que resultaria no segundo gol de um time com dificuldade de finalizar. Craques que abundam num país rico de oportunidades para os talentos futebolísticos mas pobre de oportunidades para os talentos científicos.

“O Brasil tem cinco dos dez maiores craques de futebol do mundo mas nunca recebeu um Prêmio Nobel. Porque poucos adquiriram capacidade científica para concorrer a ele. Temos tantos craques porque os meninos do Brasil jogam bola desde os quatro anos de idade, nos mesmos campos de pelada, com bolas similares. Mas escolas eles não têm, nem livros. Entram na escola aos sete anos, saem aos nove ou dez.”

Cristovam Buarque, Jornal do Commércio 16.06.06

É de se imaginar o que seria do Brasil se as chances do futebol fossem as mesmas da educação. Com toda certeza seria, também, uma potência científica.

“Criança precisa se desenvolver, e ter chance de vencer, graças ao mérito, ao talento e à persistência. Como nossos Ronaldinhos da vida.”

Cristovam Buarque, Jornal do Commércio 16.06.06

E isso é perfeitamente possível desde que haja vontade política para fazê-lo. Mas, antes da vontade política, é preciso que a sociedade esteja consciente da necessidade e da possibilidade dessa revolução.

“É possível dar chances de estudar iguais às oportunidades de jogar bola. Permitir que todas as crianças brilhem, com a bola no pé e com os livros nas mãos.”

Cristovam Buarque, Jornal do Commércio 16.06.06