Mesmo com as dificuldades deixadas, JK continua fazendo uma falta enorme ao país


Juscelino Kubitschek de Oliveira, o Nonô Pé de Valsa, o JK, o Presidente Bossa Nova foi, sem a menor sombra de dúvidas, o único genuíno clarão de sol no nublado céu da política nacional, desde o início do século passado. Antes dele, só Getúlio Vargas, com seus problemas. Depois, infelizmente, ninguém.
“Além de rimar crescimento econômico com liberdade, Juscelino tinha um compromisso com o sonho e com a imaginação.”
Cláudio Bojunga, jornalista e biógrafo de JK
Boa parte do sucesso de JK deveu-se, com certeza, às suas características pessoais (ver GH/570) mas também foi favorecido por uma série de acontecimentos positivos que funcionaram como alavancadores da auto-estima nacional.
“Tudo parecia dar certo para o Brasil: ganhamos a Copa do Mundo, surgiu o cinema novo e a bossa nova, enfim, tudo era novo, tudo era festa.”
Marly Mota, historiadora do CPDOC-FGV
De fato, tudo parecia conspirar a favor do país. Vitórias, além do futebol (Copa de 1958 na Suécia), no tênis (Maria Esther Bueno), no boxe (Eder Jofre), no atletismo (Adhemar Ferreira da Silva). Palma de Ouro em Cannes e Oscar de melhor filme estrangeiro em 1958 para “Orfeu Negro”, uma adaptação francesa filmada no Rio de Janeiro da peça “Orfeu da Conceição” de Vinicius de Moraes. Sem falar da inauguração da moderna Brasília.
“Na segunda metade da década de 50, parecia que havíamos ‘chegado lá’, que tínhamos deixado para trás o estigma de ser uma nação rural, doente, analfabeta e condenada ao subdesenvolvimento e que estávamos prestes a conquistar uma cadeira no seleto clube dos países do Primeiro Mundo.”
Revista Aventuras na História, janeiro/2006
Isso tudo como reforço ao inédito crescimento da economia, com a industrialização acelerada e a construção de uma infra-estrutura portentosa, responsáveis por um crescimento médio de 8,1% ao ano no período. Sem capital para financiar todo esse esforço, JK recorreu ao endividamento externo e viu a inflação pular de 12,5% ao ano para 30,5% ao final de seu mandato.
“Retrospectivamente, JK parece maior hoje do que foi em vida. Em seu governo a inflação subiu e a construção de Brasília gerou acusações de corrupção. Em comparação ao que veio depois, porém, esses seriam apenas pecadilhos.”
História Viva, número 27
Certo de que iria voltar como presidente em 1965, JK deixou um conjunto de problemas para o sucessor que esperava retomar para solucionar no mandado seguinte.
“Juscelino acreditava que voltaria nos braços do povo, pois imaginava que Jânio,que pregava a austeridade financeira, iria provocar o arrocho econômico e, assim, fazer o Brasil sentir saudades do que perdera.”
Cláudio Bojunga, jornalista e biógrafo de JK
Como se sabe, não só não voltou como foi cassado, exilado e viria a morrer no ostracismo. Como presidente dinâmico e otimista deixou uma lacuna enorme, difícil de preencher. 12 presidentes e muitas loucuras depois, se tivessemos tido a sorte de ter pelo menos mais um JK, as coisas teriam sido, com certeza, diferentes.