O crescimento econômico devearrefecer em 2005 para retomar em 2006


O presidente Lula tem dito em todas as oportunidades surgidas que a política econômica não muda. Afinal, do ponto de vista do prometido pelo governo (“enfrentar a herança maldita” e, depois, colocar em cena “o espetáculo do crescimento”), as coisas aparentam estar andando conforme o planejado.
De fato, depois de amargar um crescimento próximo de zero em 2003 (primeiro ano do governo Lula), o PIB voltou a crescer, em 2004, a taxas supreendentemente vigorosas para o padrão dos últimos 25 anos (algo próximo a 5% ao ano).
Esse crescimento se deu puxado pelo extraordinário desempenho das exportações (com saldo projetado da balança comercial em 2004 de US$ 33 bilhões e do balanço de pagamento de US$ 10 bilhões). Um feito realmente notável, sem precedentes na história econômica recente do Brasil.
É verdade que o comando da economia mostrou perícia em manter as principais diretrizes da política de estabilização inaugurada no governo anterior (segundo governo FHC): (1) regime de metas inflacionárias para combater a alta dos índices do custo de vida; (2) superávit fiscal de 5% do PIB para manter a dívida pública sob controle; (3) câmbio flutuante e superávit comercial para evitar a insolvência das contas externas.
Além disso, a condução da economia, coordenada pelo médico sanitarista Antônio Palocci, mostrou, também, grande perícia em “surfar” a onda favorável do comércio internacional, liderado pelo crescimento da economia mundial na casa dos 5%. Essa é a maior taxa desde 1985, com destaque para a retomada do crescimento da economia norte-americana e para a voracidade incomum da China na compra de commodities, no rastro do alto crescimento ininterrupto de mais de uma década.
Esse adequado manejo das variáveis da economia, tanto internas quanto externas, inclusive, conferiu ao ministro Palocci uma verdadeira hegemonia política dentro do núcleo governista, calando a boca, pelo menos por enquanto, dos descontentes, inclusive do ex-todo poderoso José Dirceu. Também pudera, formalmente Palocci está entregando tudo o que prometeu ao presidente Lula.
Até quando essa situação favorável, do ponto de vista econômico, perdurará, é a verdadeira pergunta que não quer calar. Todos os que estão ligados no tema estão se perguntando isso.
Pesando sobre a perpetuação dessa situação favorável de crescimento, existem constrangimentos externos e internos. Os externos estão ligados à continuidade do vigor do crescimento da economia mundial. Há dúvidas sérias se esse crescimento se sustentará e com ele a demanda externa pelas exportações brasileiras. Qualquer “soluço” da China, aumento acentuado dos juros dos EUA, conturbações políticas internacionais ou aumento consistente dos preços do petróleo, por exemplo, podem derrubar a demanda. Os constrangimentos internos recaem, sobretudo, sobre o peso da dívida pública que está perto de 60% do PIB e que impede a queda dos juros básicos e o aumento dos investimentos públicos e privados.
Do ponto de vista interno, os constrangimentos são tão poderosos e tão impactantes sobre a infra-estrutura do país e sobre o estrangulamento da capacidade produtiva que, praticamente, o crescimento econômico fica condicionado ao aumento da inflação: quando ela sobe o BC eleva os juros e recomeça o círculo vicioso.
Sabendo disso, a equipe econômica já providenciou o aumento das taxas básicas de juros para frear um pouco o ritmo do crescimento. Na prática, a economia não agüenta crescer no ritmo verificado em 2004 sem que sobrevenham pressões inflacionárias. O plano do governo é refrear um pouco o crescimento para retomá-lo novamente, de forma vigorosa, em meados de 2005 e entrar 2006 a todo vapor para fazer casar o calendário do crescimento com o calendário eleitoral. O crescimento será o principal cabo reeleitoral de Lula como o combate à inflação foi o de FHC.